quarta-feira, 11 de julho de 2012

6 Graus de Literatura: Na Natureza Selvagem & Fernando Pessoa


Sim, quem diria que em palavras, Fernando manifestaria o mesmo grito uma vez levantado por Christopher J. McCandless; relaciono ao filme cujo cerne se tornou uma experiência cinematográfica a qual jamais esquecerei, relaciono ao espírito de Alexander Supertramp, relaciono a mentalidade thorealista de Christopher. Na Natureza Selvagem (2007) é uma belíssima orquestra de vida, uma ode grandiosa ao eu liberto, ao eu desapegado da carne, ao eu primitivo, ao eu, ao eu.


"[...]

Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto de apoio na inteligência,

Consanguinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremação aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.

Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair

Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,

Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida."

'Passagem das Horas' de Fernando Pessoa, Antologia Poética, Nova Fronteira, 2011.


Nenhum comentário:

Postar um comentário