quarta-feira, 4 de julho de 2012

Walter Salles e o Universo... Na estrada.


Santo Salles! Santo Kerouac! Santa a conversão da literatura beat ao cinema! Fazendo uma piada aqui e ali, eu me apresento uma roader de espírito em algumas conversas, pois não penso que exista algo mais bonito do que o vislumbre da estrada e suas analogias em um filme executado de forma competente. Trágico, eu sei. Loucura, eu sei. Porém, este Brasil pode se gabar de ter entre seus filhos mais ilustres, Walter Salles - uma das maiores autoridades quando o assunto é filmar as estradas convencionais ou aquelas mais oníricas e tecer os diversos paralelos de um mundo presente em asfalto, terra batida e horizontes intermináveis.

E eu já perdi as contas quando o assunto é Jack Kerouac. Aliás, é muito mais fácil para mim dizer qual livro dele ainda não percorri. Em verdade, a obra dos autores beats não é leitura para qualquer um: qualquer um pode comprar os livros e se dispor a ler, mas a grande maioria não entenderá muito bem o que eles queriam passar através da palavra, para alguns, foram apenas isso, palavras aleatórias, dispersas e espancadas numa máquina de datilografia. O que diabos eles realmente queriam dizer? Honestamente, eu nem tento imaginar; a escrita é infinitamente mais pessoal que a leitura, justamente por nossos pensamentos serem incontroláveis quanto aos inúmeros significados que atribuímos a uma simples palavra.

Estrada que segue para além de um caminho ou direção, uma linha sinuosa num mapa rasgado ou uma forma de se chegar a outro lugar, um traçado, uma meta, existência livre. É a alusão a própria vida, afinal, como bradava Kerouac, estrada é vida! Estamos presos a identidades conferidas a nós antes mesmo de termos noção de quem somos, quem devemos ser, quem desejamos ser; o argumento notoriamente beat acerca a liberdade neste universo é belo, pois não deveríamos determinar nada e sim, simplesmente se permitir ser, apenas estarmos lá, jogados nas geleiras brancas, respirando a nicotina e a poesia das circunstâncias.

Kerouac não é um autor interessante quando se é lido em português, mas diabos, é insano e bebop e non-stop em inglês; é poético e poderoso e sim, é extremamente estranho pensar em sua adaptação, mas Waltinho é o cara certo para o trabalho.  Aliás, é irônico pensar que um autor no qual prefiro ler em seu idioma original, será concebido por um diretor de natureza brasileira, pelo menos para mim. Estou no aguardo do meu ingresso para o dia 13/07 e acredite, eu irei sozinha para uma primeira sessão. E para uma segunda sessão. Na terceira, talvez eu leve alguém comigo. Quero mastigar tudo o que irei receber de sensações, sem influência, sem conversa, sem o chiado da pipoca, sem o amigo falando sobre relacionamentos prévios que afundaram ou posições sexuais, para o inferno com as mensagens e os celulares!

E Walter, eu espero, nos levará rumo a sua visão, tal qual em Terra Estrangeira, Central do Brasil e Diários de Motocicleta; seremos guiados pelo visionário, pela fotografia de um mundo partido, pela inquietação de seus rostos, pelos nomes que esqueceremos após uns dias, mas cujas características estão presas a nossa própria condição humana. É o mundo na estrada, é o homem, o escritor, o devasso, os que desejam algo ou o nada. Asfixiados pelo som de toda a uma sociedade, de uma cultura, de um ir contra todos para depois arrastar os demais. Alucinados pela santa benzedrina e pelo fervor do sexo despido de nomes.

Que mundo era aquele o seu, Kerouac? Era o adeus na imensidão, era a alucinação das drogas, era o sexo e apenas isso, eram as divagações na ponta do lápis e a estrada, a santa estrada, cruzando nossas próprias versões distintas e distorcidas das Américas. Sou apenas outra passageira que está segurando-se firmemente a esperança de um resquício de direção e após 50 e poucos anos, Walter e Kerouac finalmente nos levam no bolso, no papel, na câmera... na estrada.

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