quarta-feira, 11 de julho de 2012

6 Graus de Literatura: Terra Estrangeira & Fernando Pessoa


E lá estava eu, outra vez, criando conexões entre meus filmes e meus livros quando me deparo com tal fragmento; a catarse se encarregou de me trazer a mente a sequência de abertura de Terra Estrangeira (1996):


"[...]

Na minha imaginação ele está perto e é visível
Em toda a extensão das linhas das suas vigias,
E treme em mim tudo, toda a carne e toda a pele,
Por causa daquela criatura que nunca chega em nenhum barco
E eu vim esperar hoje ao cais, por um mandado oblíquo.

Os navios que entram a barra,
Os navios que saem dos portos,
Os navios que passam ao longe
(Suponho-me vendo-os duma praia deserta) -
Todos estes navios abstratos quase na sua ida,
Todos estes navios assim comovem-me como se fossem outra coisa
E não apenas navios, indo e vindo.

[...]

Os navios vistos de perto são outra coisa e a mesma coisa,
Dão a mesma saudade e a mesma ânsia doutra maneira.

[...]

O Mediterrâneo, doce, sem mistério nenhum, clássico, um mar para bater
De encontro as esplanadas olhadas de jardins próximos por estátuas brancas!
Todos os mares, todos os estreitos, todas as baías, todos os golfos,
Queria apertá-los ao peito, senti-los bem e morrer."

'Ode Marítima' de Fernando Pessoa, Antologia Poética, Nova Fronteira, 2011. 

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